Quando a busca pela beleza pode causar problemas
Vivemos em um mundo que cultiva a aparência física como um
atributo desejável por todos os que têm ou almejam ter sucesso. Nunca se viu
uma procura tão grande por técnicas que nos façam melhorar nossa aparência
física: academias de ginástica, clínicas de estética, cabeleireiros e claro,
cirurgiões plásticos.
A própria cirurgia plástica sofreu um avanço considerável
nas últimas décadas, tendo em mãos hoje técnicas que deixam o mínimo possível
de cicatrizes aparentes e cujos resultados podem ser visualizados
antecipadamente com precisão. Tal segurança, aliada ainda a popularização e com
preços acessíveis, angaria uma legião de pessoas: mulheres e, especialmente
hoje, homens que buscam a cirurgia plástica como um modo de melhorar a
aparência física.
Um psicólogo se perguntaria que tipo de motivação leva uma
pessoa comum a procurar tal serviço, e, quais as consequências desse serviço
sobre o comportamento da pessoa?
A motivação parece ser óbvia: a pessoa quer se tornar mais
bonita, se sentir melhor ela mesma... O que não é problema nenhum, não é mesmo?
Mas e se por acaso, esta pessoa pensa que, se tornar bonita
é o único meio que ela vê para conseguir atenção no seu meio social? E se ela
pensa que parentes, amigos, namorados ou namoradas, irão gostar mais dela por
agora ter uma aparência diferente? Daí teremos uma motivação para cirurgia
plástica ligada a uma possível baixa na auto estima, que advém possivelmente da
falta de algumas habilidades sociais que dariam a esta pessoa destaque no seu
ambiente social e que não necessariamente estão ligadas a aparência: um bom
papo, colocar suas ideias e opiniões, \" ter personalidade\", ter a
capacidade de seduzir ou de cortejar aqueles que lhe atraem. Todos concordam
que, uma pessoa bonita, mas que não sabe conversar, interagir com os outros e é
inconveniente, não vai se dar bem socialmente, por mais bonita que seja.
Outro exemplo também ligado a esta motivação é o que pode
ocorrer nos casamentos: cirurgia plástica como \"bote salva vidas\"
na fantasia de um ou dois cônjuges. Após problemas, desgaste, rotina, stress, a
relação pode não ter ficado tão mais prazerosa como era antes, e, com o
envelhecimento, podem surgir fantasias de que um dos cônjuges pode ser trocado
por uma pessoa mais nova. Então a cirurgia pode ser vista como um meio de
salvar ou dar vida nova à relação. Caso isso não aconteça a frustração será
grande, também revertendo em problemas para o médico cirurgião, que com certeza
será culpado por não ter proporcionado o resultado esperado pelo paciente, e
que na verdade era um resultado que ia além do resultado estético. É bom que explique
desde o início, muitos cirurgiões se preocupam em avisar aos seus pacientes que
esse resultado que vai além da estética, pode não ser alcançado e que isso é
trabalho para um profissional de Psicologia. Mas mesmo assim o paciente pode
não dar ouvidos, ou procurar outro cirurgião não tão preocupado com estas
questões.
A mídia é um grande meio motivador para a procura de
cirurgia plástica. Os meios de comunicação constantemente, através de
propagandas, novelas, revistas e mídias sociais, etc. Associam beleza física a
status, sucesso, popularidade. Então desde pequenos, aprendemos que certos
tipos de padrão de beleza são os corretos e são os que devem ser buscados e
consumidos. É interessante notar que o padrão de beleza propagados não se
encaixa num padrão de beleza natural: musculatura definida e abundante, seios
grandes e firmes, pele lisa e sem nenhum defeito. Todos estes padrões
necessitam de serviços para poderem ser adquiridos: ou seja, são bens de
consumo tanto quanto um pãozinho francês.
A busca por tal aparência estética "não natural", acarretará
a não aceitação da nossa própria aparência natural. Se eu não reproduzo os
padrões considerados corretos, então eu não vou produzir consequências
desejadas por mim no meu meio ambiente: não serei aceita, ser desejado, não
serei popular, não aparecerei como indivíduo no meu grupo social (muitas dessas
coisas podem ser apenas fantasias). A consequência desse tipo de atitude é não
saber quem você é, buscar valores não pessoais e naturais como referência para
se sentir digno e importante, desvalorizar-se, não ter personalidade e não
valorizar as próprias conquistas.
Por outro lado, a cirurgia plástica pode ser extremamente
benéfica para pessoas que não dependam unicamente dela para se sentirem mais
felizes, e com isso não fantasiarão resultados que não se concretizarão
posteriormente. Pessoas com habilidades sociais estabelecidas: que sabe
conversar, se destacar no seu grupo social, sabe ser desejada, tem consciência
do seu valor e do que pode fazer, com certeza irá curtir a nova aparência muito
mais plenamente e de forma mais saudável. Aqui a cirurgia irá unicamente somar
aos dividendos sociais e pessoais. Um casal que sabe negociar, superar
diferenças e reinventar a relação dia após dia, terá na cirurgia plástica algo
mais para adicionar no seu convívio, vida sexual e social. Uma pessoa que
aceita a si mesma, sabe buscar seus valores na sua própria experiência, se
sente digno e importante, terá na cirurgia um grande complemento dessas
conquistas.
O Papel da aliança multidisciplinar entre o Psicólogo e o Cirurgião
Plástico, visa esta última realidade:
Proporcionar uma satisfação completa ao indivíduo. Ao
psicólogo cabe auxiliar o indivíduo a melhorar sua auto estima, habilidades
sociais, conhecer a si mesmo e suas reais motivações, colocar o pé no chão
quanto as suas expectativas e auxiliar a pessoa a se aceitar e se sentir bem
como ser humano acima de tudo. Ao cirurgião cabe dar a forma final, estética e
que proporciona ao indivíduo uma potencialização dos seus ganhos pessoais.