quinta-feira, 7 de maio de 2015

Como entender a autoestima


Uma vez que a imagem corporal é extremamente importante no complexo mecanismo de identidade pessoal (MELLO FILHO, 1992), a aparência pessoal desempenha papel relevante em todas as etapas do desenvolvimento, inclusive na vida adulta (MOSQUEIRA, 1981). A imagem mental na qual representamos nosso corpo é, conforme Mello Filho (1992), formada por três aspectos: a imagem desejada ou aquela que se deseja ter; a imagem representada pela impressão de terceiros; a imagem objetiva, ou a que a pessoa vê, sentindo seu corpo.
A imagem que construímos de nós mesmos é baseada naquilo que vemos e apropriamos do nosso corpo. Entretanto, podemos percebê-lo como defeituoso, indesejado e fonte de grande sofrimento. Diante disso, algumas técnicas surgiram para solucionar esta insatisfação pessoal, entre elas, a cirurgia plástica.

A necessidade de se encaixar nos padrões sociais de beleza tem alimentado cada vez mais o mercado da cirurgia plástica estética. O sentimento de exclusão, de sentir-se diferente e não parte da sociedade, é tão intenso e danoso, que as pessoas são capazes de pagar fortunas para livrar-se de tal sensação. O não pertencimento ao grupo nos tira o prazer da semelhança, nos afasta do outro, sendo que este passa de próximo a estranho (PORTINARI, 2000).

Neste estudo, constatamos que todas as entrevistadas sentiam que alguma parte do corpo estava incomodando, trazendo uma sensação de desconforto e, com isso, mobilizando sentimentos de insatisfação, sofrimento e não aceitação de si. Para que fossem resolvidos ou amenizados tais sentimentos, optaram pela cirurgia plástica estética para corrigir o que não estava lhes agradando, desagrado relacionado tanto à sua própria percepção como também à avaliação que sentiam provir dos demais.
Todo ser humano está vinculado a objetos, quer no plano intra, inter ou transpessoal, e precisa vitalmente do reconhecimento das pessoas para a manutenção de sua autoestima. É a partir do outro que o ser humano encontra suas semelhanças e diferenças e aprende a se reconhecer, uma vez que estas representações já existem a nível inconsciente. Desta forma, elas asseguram um sentido e desenvolvem a autoestima (ZIMERMAM, 1999).
O outro é parte do desenvolvimento de identidade do self, isso caracteriza bem os resultados obtidos pelas verbalizações da maioria das entrevistadas, nas quais fica clara a influência da família na tomada de decisão, assim como a opinião do médico, pois ambos identificaram “o defeito” e apontaram a cirurgia plástica estética como sugestão de reparo e conseqüente melhora. Em outros dois casos, porém, é perceptível o mal estar das entrevistadas diante do olhar do outro, fazendo com que elas imaginassem e interpretassem esse olhar como acusador do “problema” corporal. Sentiam-se analisadas e verbalizaram que, nesse momento, o seu “defeito” tomava conta de todo o seu eu, desvalorizando os outros aspectos positivos que possuíam.
Desta forma, nos é permitido pensar e refletir que o outro não influi apenas no início de nossas vidas, mas influencia diariamente, nas pequenas e grandes decisões, nos sentimentos de bem-estar e auto-aceitação, na caminhada eterna de construção e reconstrução. Estamos falando aqui não somente de uma insatisfação pessoal, mas de uma insatisfação baseada e comparada ao padrão social e aos seus valores do que é certo, positivo e belo.

O “estar bem consigo mesmo” é algo que necessita ser avaliado e alimentado diariamente. A flutuação no humor, os acontecimentos cotidianos e as transformações ditadas pelo tempo são responsáveis pelo desequilíbrio do bem-estar. Dessa maneira, o ser humano lança mão de estratégias para reorganizar o self e reencontrar a homeostase.
O conceito de belo, está muito relacionado ao sentimento de aceitação. Todavia, nem sempre se faz psicoterapia para “resolver o problema” de aceitação e tão pouco faz-se um preparo psicológico anterior à cirurgia plástica estética. Isso nos remete a pensar que, se o corpo não está vinculado à beleza, porque a cirurgia plástica estética tornou-se tão procurada para sanar sentimentos de insatisfação consigo mesmo?
Quando a fonte do sentimento de mal-estar é o corpo, a cirurgia plástica é convocada a resolver “o problema”. É rápida, em algumas vezes definitiva, e não exige muito investimento e/ou comprometimento pessoal em seu processo. Em contrapartida, a psicoterapia, que poderia instrumentalizar o indivíduo a viver de maneira mais saudável e equilibrada, é mais demorada, exige motivação e comprometimento pessoal em seu processo; transformaria o mundo interno, deixando o corpo diferente não em sua estrutura, mas na maneira como é interpretado.

O ideal é um aspecto subjetivo, importante em todas as esferas motivacionais e comportamentais. Nos dias de hoje, o ideal tem escravizado o ser humano na busca incessante e desgastante. É possível encontrar condutas destrutivas como a anorexia, por exemplo, como alternativa de alcançá-lo (PORTINARI, 2000).
O sentimento de pertencimento ao padrão social é tão perseguido que, muitas vezes, quando não alcançado, é motivo de angústia e tristeza. O ideal e o real acabam sendo tão distanciados que o indivíduo se perde na sua própria imagem, o que acarreta prejuízos emocionais, comportamentais, cognitivos e produtivos. Entretanto, ter a possibilidade concreta de aproximar o desejo da realidade é um dos aspectos que impulsionam e movimentam o mercado da cirurgia plástica estética.
Constata-se que o que gerou a busca da cirurgia plástica na maioria do caso  foi a angústia proveniente de fatores internos e externos. Algumas decidiram no impulso, outras estiveram pensando durante algum tempo, outras foram conversar com alguém que já tinha feito. Após este momento, ao se submeter à cirurgia, a maioria delas estranhou o resultado inicial. Os edemas, os hematomas, a diminuição ou o aumento de uma parte do corpo, tudo isso causou um impacto, um choque de não reconhecimento de si mesmo. A grande maioria relata que o tempo foi solução para esses sentimentos, pois as consequências estéticas da cirurgia foram diminuindo e o resultado mais visível foi aparecendo, sendo que o resultado final foi equivalente ao idealizado e, portanto, satisfatório.

Mas poderíamos pensar no caso de o resultado final não ser satisfatório, na expectativa que não foi alcançada, no desejo que se tornou um pesadelo. O pós-cirúrgico é um momento muito delicado, que remete a uma sensibilização intensa do psiquismo. É um momento difícil, que exigi bastante força e energia para assimilar e aceitar o processo de recuperação que estava acontecendo, embora o resultado final fosse o esperado. Pensemos, neste momento, naquelas em que o resultado final boicota o sonho, quando a imagem corporal tem que ser refeita em cima de algo não idealizado, de algo jamais previsto, o quanto o psiquismo será atingido e o quanto isso poderá acarretar em consequências danosas ao indivíduo. Assim, é válido enfatizar a importância dos cuidados psicológicos, porque não estamos tratando somente do corpo, mas sim da mente, uma vez que os dois são intimamente ligados e dependentes.


Mesmo enfrentando um pós-operatório doloroso, com exigência grande de cuidados e uma limitação temporária de atividades e movimentos, a dor do “defeito” é maior. A dor física torna-se pequena perto da dor mental de ter que conviver com algo que não se aprecia. É preferível, segundo algumas mulheres, passar por um período de dor física, do que enfrentar por toda a vida uma dor psíquica. Assim, concluímos que após a cirurgia há um aumento na autoestima, elas conseguiram olhar para si mesmas e apreciar o que enxergavam, suas relações interpessoais e sexuais melhoraram e suas vidas conquistaram maior qualidade.

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